péntek, szeptember 30, 2005

Cozinha

Nao sei se tudo comecou com a sopa de tomate, mas desconfio que aquela teoria da Tche sobre papos animados com a mesa posta esteja muito certa! Eu me ausento por 24 horas e quando volto a família já tomou conta do espaco! Parece que esse blog já tem vida própria, nem preciso mais aparecer por aqui... ;-) Entao, porque estou adorando participar da roda novamente, assim, nove meses depois, resolvi facilitar o bate papo e, aceitando a sugestao da Tche - tchek, tchek ;-) - criei um "livro de visitas" ali a direita onde é possível ler todos os recadinhos de uma só vez, sem precisar fazer cálculos pra descobrir se há rmensagens novas ou nao. Espero que o novo espaco nao seja inibidor porque, apesar de eu nao ser uma pessoa viciada em comentários - cade o Tio Ricardo que nem comenta mais???? - eu estava mesmo achando que os frequentadores desse blog sao tao interessantes e inteligentes como os leitores do blog da Cora! ;-) Por via das dúvidas, entao, coloco mais comida na mesa pro assunto nao acabar! Com voces, a famosa, a rosa, a apetitosa gyümölcsleves!

hétfő, szeptember 26, 2005

Limonada de Luxo


Por falar em hortifrutigranjeiros, alguém aí pagaria 95 Forints, que é mais ou menos R$1,35, por um - sim, eu disse 1 - limão? Pelo que eu me lembro, por esse preco dá pra comprar uma dúzia deles aí no Brasil! Dá até pra pensar em exportar os limoezinhos do nosso tesouro - ops! - jardim, nao é, mamae?

Éden

Só porque o nosso simples tomate recebe aqui na Hungria o sugestivo nome de "paradicsom" e vira "paraíso" - com um preco absurdo, lógico, porque nada que tenha um nome tao pomposo e importante pode ser barato, concordam? - eu, que nunca gostei dessa verdura, passei a adorá-la e a ter desejos noturnos de sanduíche de paradicsom e a sair de casa na chuva por causa do paradicsom e a comer paradicsom como se fosse macã. O prato ao lado, por exemplo, é a sopa de paradicsom que eu paraíso agora. Estao servidos?

P.S.: Alguns húngaros que eu conheco ficariam muito zangados se soubessem eu ter colocado cenoura, milho e ervilha numa sopa tao delicada como uma "paradicsomleves" mas eu estou numa fase de experimentacoes culinárias. E nao ficou de todo ruim.

vasárnap, szeptember 25, 2005

Puszi

Achei uma delícia minha mae ensinar a família a beijar em húngaro, mas faltou explicar que, por telefone, "cup cup" vira "tsup tsup" porque todo "c" tem som de "ts" na língua magiar. Explicando de outra forma, deixando as regras de lado, tem mesmo que ser assim, "tsup tsup", porque é mais parecido com a onomatopéia de beijinhos - ou era pra ser...

szombat, szeptember 24, 2005

Dembinszki Utca


Uma rua como muitas outras de Budapeste, mas porque nela moram a Györgyi e sua filha brasileirinha a Dembinszki Utca fica mais especial.

Intérprete requisitadíssima; tradutora que, muitas vezes, passa dias e noites trabalhando sem parar; mae da Petra, uma garotinha de menos de um ano de idade, a Györgyi ainda tem tempo de almocar comigo de vez em quando. Quando isso acontece, nós sempre perdemos a hora conversando sobre línguas, viagens, criancas e rapazes. Depois, já a caminho de casa, invariavelmente recebo - e respondo - mensagens felizes pelo celular agradecendo o tempo em que passamos juntas. A Györgyi, resumindo bastante, é um dos meus "portos seguros" na cidade, uma das razoes que me fazem responder um sonoro "nem!" toda vez que alguém pergunta se eu estou sozinha em Budapeste.

csütörtök, szeptember 22, 2005

Prisao


A foto nao poderia ser outra. Faz quase uma semana que eu nao piso na rua. Acho que, apesar de todo esse espaco, em vez de estar no BBI, eu estou no BBB - Balassi Bálint Börtön.

szerda, szeptember 21, 2005

Első Lecke

Figyeljetek! Tomem cuidado ao pronunciar o nome do meu bonde querido: villamos. Lembrem-se da "cadencia das palavras húngaras com a tonica sempre na primeira sílaba", como o Chico já explicou em Budapeste, "mais ou menos como um frances de trás pra diante": víllamos. Além disso, a letra "a", assim, sem acento, tem um som parecido com nosso "ó": víllómos. (Sim, sim, eu sou Ónnó para os húngaros - Ónnó Bórbóró, como diz o Sr. János. ;-) O próprio "o", por sua vez, tem um som fechado, "ô", que transforma a palavrinha em víllómôs. Para terminar, nao se esquecam de que o "s" final soa como o nosso "ch" e dessa forma, entao, temos o víllómôch, dezenas deles: 2-es víllómôch, que passa ao lado do Danúbio; 6-os víllómôch, que todo mundo usa; 61-es víllómôch, que me traz pra casa...

hétfő, szeptember 19, 2005

Villamos


Eu iria contar pra minha mae que a escola onde eu dou aulas de Portugues - a mesma que me deu todos aqueles livros e flores no meu aniversário - fica naquele prédio salmao ali atrás, mas quando o meu amado villamos aparece nas fotos, tal qual um Mel Gibson amarelo rouba a cena com seu charme incontrolável e todo o resto fica quase insignificante!

vasárnap, szeptember 18, 2005

Kilátás


As janelas do meu quarto olham para o Castelo de Buda.

szombat, szeptember 17, 2005

Zsoze Kósta


. A magyar társadalom ma: politikai, etnikai és szociológiai problémák
. Magyar történelmi alapismeretek
. Bevezetés a magyarság neprajzába
. A magyar irodalomtörténet kanonikus alkotásai
. A magyar irodalom történetének áttekintése
. Kortárs irodalom és irodalomkritika
. Bevezetés a müvészettörténetbe és zenetörténetbe
. Szemelvények a magyar nyelv történeteből
. A magyar mint idegen nyelv tanításának módszertana

Estas sao as matérias que deverao ser cursadas por mim neste semestre. Nao importa se estudei o húngaro somente por quatro meses, a bolsa de estudos que consegui exige minha presenca nas nove disciplinas. Entao, esta semana, durante todas as tardes, professores de terno e gravata discorreram sobre a origem da língua húngara, sobre o andamento da economia na Hungria depois da mudanca do sistema, sobre documentos antigos escritos em Ómagyar. Eu tentei acompanhar o que estava sendo dito, escrevi no meu caderno algumas palavras constantemente repetidas e que depois, com a ajuda de meu dicionário, descobri significarem Iluminismo, agricultura, dignidade, cetro, prova oral e me senti o próprio José Costa, personagem do livro do Chico, que aprendeu o húngaro através dos intelectuais do Clube das Belas-Letras.

(A foto acima é um detalhe de dentro do Sándor-Palota, o prédio do Escritório do Presidente da República, aberto ao público uma vez por ano, onde tive hoje uma aula de política in loco.)

szerda, szeptember 14, 2005

Órarend


Esta é a escola de húngaro onde voces poderao me encontrar nos próximos dez meses. Minhas aulas mal comecaram e já me colocaram numa sala onde o colega menos experiente estuda húngaro há tres anos. Durante dois dias eu tentei fingir que se eu estudasse bastante eu poderia entender sobre a mudanca na prosa da literatura húngara em 1979 mesmo sem nunca ter lido mais do que tres páginas da literatura, ela própria. Ainda tinha esperancas de que, com algumas semanas, eu estaria apta a comecar a ler a bibliografia de 12 livros que o professor de história recomendou, mas nada me assustou mais do que um colega comentar comigo que a aula de hoje sobre arte húngara dos anos de 830 a 970 tinha sido "muito banal porque ele já tinha visto isso tudo na universidade" e tudo que eu tinha entendido era que o professor devia estar explicando sobre tres tipos diferentes de vasos, já que ele tinha desenhado algo parecido no quadro...

Vencida pela realidade, a partir de amanha, possivelmente, terei aulas só de língua húngara, mas nem por isso ficarei mais tranquila porque só estarei adiando até Janeiro minha presenca nessas aulas difíceis. A bolsa de estudos que ganhei era destinada a alunos que já estudaram húngaro na universidade e por esse motivo me foi negada anteriormente, mas agora que o instituto mudou de idéia eu estou com a nítida sensacao de que eu terei que bater algum tipo de recorde e aprender húngaro em quatro meses.

péntek, szeptember 09, 2005

334-es Szoba


Este é um pedaco do meu cantinho, no quarto háromszázharmincnégy do Balassi Bálint Intézet, um instituto de estudos húngaros para alunos estrangeiros. É um lugar grande e branco, tao brancos esses corredores que nao demorou muito para que a escola ganhasse o carinhoso apelido, entre meus amigos, de Balassi Bálint Kórház, que quer dizer "hospital" em húngaro.

Na parede, um cartaz onde se le "Klasszikus Magyar Írok", com a carinha de alguns dos mais importantes escritores húngaros, e nas prateleiras um monte de livros que, ao que parece, eu lerei muito em breve. Está tudo arrumado demais, mas é porque é foto de quarto tirada especialmente pra mae, voces me entendem. Mas é só voces colocarem um pouco mais de vida nessa fotografia, uma bagunca minimamente calculada, daquelas necessárias e gostosas porque avisam que tem gente morando na casa, e descobrirao onde eu moro.

Nao se esquecam de limpar os pés antes de entrar porque dá um trabalho canino esfregar esse chao - branco - que suja a toa. Köszönöm.

csütörtök, szeptember 08, 2005

História de Amor

Foi com essa carta de apresentacao abaixo que eu me candidatei a uma bolsa de estudos para Hungarologia, no comeco do ano. Junto com ela, uma cartinha muito gentil do Professor de Latim mais importante do mundo, uma outra do Embaixador do Brasil aqui na Hungria, outra da tanárnő que me deu aula este semestre e toda a esperanca possível de poder estudar literatura húngara, e a música, e a história, e a etnografia, e até discutir metodologia do ensino do húngaro como língua estrangeira e, enfim, conhecer tudo, tudo que fosse "hu".

Eu amava tanto esse lugar, tinha vindo pra cá com o coracao tao aberto cheio de "szeretleks" que quando, em Maio, veio uma resposta negativa - nem, nem szabad itt tanulni! - eu fiquei triste demais, como sempre acontece quando o ser amado diz "nao" pra gente. E eu nao entendi o porque, e chorei no villamos, e quase maldisse o Duna, quase levantei a voz com o país que tinha me dito assim, claramente, sem nenhum tipo de cerimonia, que nao queria que eu desvendasse os seus segredos.

A história tinha virado amor platonico. Eu amava quem nem ligava pra mim e, como um instinto de sobrevivencia, veio a negacao. Quase parei de ir nas aulas, arranjei um monte de alunos de portugues e passava o dia ensinando a eles a minha língua. De manha até a noite eu mostrava aos húngaros o Brasil, como uma revanche de namorada machucada que nao sabe bem o que fazer.

Passei 5 meses falando portugues e ganhando milhares de forints porque nao tinha mais pressa de aprender o húngaro, já que nao seria possível estudar em Setembro o que eu queria. Até que ontem eu recebo a notícia de que, sim, foi tudo um mal entendido e que, sim, eu tinha conseguido a bolsa de estudos! E foi como se a Hungria dissesse, através dessas palavras da secretária da escola, que eu era bem-vinda aqui, sim, e que eu poderia me aventurar nos seus segredos, sim.

Por isso agora - e só agora - eu escrevo esse blog. Agora eu tenho permissao pra isso, agora eu posso fazer minha homenagem a Hungria, posso dissertar sobre ela, posso publicar todas as declaracoes possíveis porque é como se a história tivesse virado amor correspondido. E isso faz toda a diferenca.

szerda, szeptember 07, 2005

Carta de Apresentacao

Balassi Bálint Intézet
Budapeste


Prezada Diretoria,

há nao muito tempo eu pensava poder prever meu futuro e nao era difícil me imaginar como professora de Latim pelos próximos anos. Gostava de estudar os Clássicos e a minha relacao com os alunos era boa. Estava feliz e tudo andava perfeitamente como o planejado. Até que, um dia, li um romance escrito por Chico Buarque, Budapeste e, através dele, tive contato com a Hungria e com a língua húngara. Quando fechei o livro, já estava fascinada pela idéia de conhecer um pouco mais esse país e essa língua cheia de consoantes.

Foi difícil encontrar um livro didático de húngaro na minha cidade e, quando o encontrei, tive que concordar com Buarque que esta língua só se aprende com a ajuda de um professor. Mas nao consegui achar ninguém que pudesse me dar aula. Nem mesmo o consul honorário, Sr. Farkasvölgyi István, pôde indicar alguém que pudesse me ajudar. Comecei a estudar sozinha e me deparei com artigos escritos por Guimarães Rosa, Paulo Rónai e Paulo Schiller sobre a complexidade e as diferencas estruturais entre o húngaro e o portugues que só fizeram com que se agucasse a minha curiosidade de linguista sobre o assunto. Ao mesmo tempo, li todos os autores húngaros que encontrei traduzidos para o portugues - Molnár Ferenc, Krúdy Gyula, Kosztolányi Dezső, Örkény István, Karinthy Frigyes, Ady Endre, Márai Sándor... – e, dessa forma, através de sua literatura, descobria mais um pouco sobre um país sofrido e intrigante.

Sem que eu percebesse, a brincadeira tinha ficado séria demais e crescia a cada dia a vontade de ver com meus próprios olhos as belezas e os mistérios da Hungria. A vontade foi tanta e tao verdadeira que, no verão passado, passei tres semanas em solo húngaro. Três semanas que me pareceram curtas demais. Ainda havia muito o que estudar e conhecer por aqui.

No outono, tive que decidir: começar meus estudos de Mestrado e renovar meu contrato com a universidade ou vir para a Hungria estudar esta língua tao diferente e única? Escolhida a segunda opçao, matriculei-me no curso de língua do Balassi Bálint Intézet, onde tive contato com estudantes de Hungarologia, curso este que me chamou muito a atencao. Foi com muita alegria que soube existirem bolsas de estudo para tal curso. É certo que nao posso pagá-lo neste momento mas caso seja agraciada com estas aulas, comprometo-me, num futuro breve, retribuir o tempo e capital em mim investidos. Será com imenso prazer que usarei meus conhecimentos linguísticos para contribuir para que mais belezas escritas nesse idioma tao solitário sejam também conhecidas no Brasil. Um país tao rico e com tanta coisa a dizer, como a Hungria, deve ter mais ouvidos atentos pelo mundo dispostos a espalhar esses „segredos”.

A Universidade de Sao Paulo tem, em sua Faculdade de Letras, o curso de Húngaro; a comunidade húngara da capital paulista é grande; acredito que nao será difícil encontrar trabalho, ajuda ou oportunidade para espargir a cultura húngara em minha volta ao Brasil. Tenho comigo imensa vontade de estudar e de trabalhar com esse tema. O que eu preciso agora é de incentivo e de credibilidade junto as instituicoes húngaras para que, num futuro próximo, eu seja capaz de colocar em prática as minhas idéias. Com carinho, seriedade e dedicacao.

Cordialmente,

Budapeste, 21 de Abril de 2005.