vasárnap, október 30, 2005

Nemzeti Színház

(O Teatro Nacional, onde assistirei a Buborékok daqui a pouco)

Színház - Emeletesre megszerkesztett hely, melyben egyesek egy emelkedettebb, lepellel elrekesztett helyen fejben megjegyzet szerepeket csevegnek, esetleg szerelmes jeleneteket. Ezer ember remegve, esetleg nevetve mered ezen jelenetekre, s egyszerre tenyereket hevesen egybever. Ezt befejezve egyszerre elmennek, megjegyezve: ejnye, de kellemesen telt el e remek este.

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Karinthy Frigyes, escritor amigo do Kosztolányi, inventou o Eszperente, brincadeira intraduzível que consiste em definir uma palavra através de um texto que só apresente a vogal "e". Acima, ele descreve meu programa de hoje a noite. Eu tenho que concordar, mesmo antes de sair de casa, que é isso mesmo um teatro:

um lugar construído em andares, onde certas pessoas, num espaco mais elevado obstruído por um véu, falam os papéis anotados na cabeca, talvez cenas de amor. Mil homens vibrando, de vez em quando dando risadas, olham fixamente para a peca e, de repente, batem palmas juntos, calorosamente. Depois disso, vao embora de súbito, comentando, ah, como foi agradável essa noite maravilhosa.

(Nao é ao menos inusitado um texto como esse só com uma vogal?)

vasárnap, október 23, 2005

O Som do Húngaro

A Tche reparou, brilhantemente, através daquele meu texto ali embaixo, que o húngaro apresenta muitas letras k, y, e t. Eu nao posso deixar esse comentário passar assim, em brancas nuvens. Já que me deram corda, aqui vao algumas rápidas observacoes sobre essas letrinhas:

. o y, apesar de nao ser uma letra nativa e só aparecer em palavras estrangeiras ou arcaicas, é parte das letras gy, ly, ny e ty. Sim, no húngaro cada uma dessas "duplas de letras" sao consideradas uma só letra, porque formam um só som. Entao, na verdade, o y aparece muito porque há outras letras formadas por ele também.

. o plural do húngaro é feito nao com a letra s, como no portugues, e sim, na maior parte das vezes, com a letra k. Fiú = menino/ fiúK = meninos; alma = maçã/ almáK = maçãs; villamos = bonde/ villamosoK = ... Além disso, como essa letra nao faz parte do nosso alfabeto, ela causa, sim, uma certa estranheza e nos chama a atencao mesmo.

. por fim, a nobilíssima letra t, além de marcar o passado do verbo, é a marca de objeto direto. Imprescindível, meus colegas de Latim conhecem bem a importancia dessa desinencia.

Só que esse monte de k, y e t nao faz, como a Tche pensou, o som do húngaro agressivo ou arranhado. "... o húngaro nao é feio", eu tenho que concordar mais uma vez com Guimaraes Rosa. Ele é uma língua bem sonora, musical, talvez por apresentar 14 variedades de vogais e 26 consoantes.

Querem ver como isso é verdade? Deem uma olhada em um conto popular húngaro e escutem a leitura do mesmo texto. (E nao, eu nao espero que alguém mais, além do Sr. János e da minha mae, decifre a historinha. Na verdade, nem é mesmo muito confortável ficar entendendo a narradora dizer, com o tom de voz mais normal do mundo que "o rei queria casar suas tres filhas e isso nem seria difícil, já que ele tinha tres países e cada uma delas ficaria com um deles". Um conto de fadas nelsonrodriguiano, digamos assim...)

Desarmamento


Daqui da Hungria eu nao posso participar do referendo, mas se eu estivesse hoje no Brasil meu voto teria sido contra a proibicao do comércio de armas no país.

"Több is veszett Mohácsnál..."

csütörtök, október 20, 2005

Por falar nela...

"E se fazia chamar de Kriska, como todas as Cristinas húngaras, Kriska e nada mais."

Eu estou até hoje tentando descobrir de onde o Chico Buarque tirou isso, porque nenhuma Krisztina que eu conheco tem esse apelido. E digo mais, fazem todas uma cara esquisitíssima quando ouso chamá-las assim!

A Pál Utcai Fiúk

"Fiúk, aki ugyanott tanulnak, találkoznak az óra útan és sportolnak, kigondolnak hadseregeteket, választást rendeznek, fontosnak érzik magukat a saját világukban. A csapatot Gittgyűjtő Egyesületnek hívják. Van nekik egy piros-zöld zászlójuk, amire rá van írva: „esküszünk, hogy rabok tovább/ nem leszünk” mint a Petőfi Sándor „Nemzeti Dalában”. Egy pecsétjük is van. A csapatban van egy kapitány, tábornokok, főhadnagyok, hadnagyok és egy közlegény is, akinek kell engedelmeskednie mindenkinek. Van egy elnök is, pecsétőr, pénztáros. A grundon, egy üres telken, összejönnek és ezzen a helyen töltik a napokat. De egy másik csapat is ott akar játszani akkor, a „hazájuk” védelme miatt, a Pál Utcai fiúk harcolnak a támadók ellen és kirobbant egy háború.

A történet Budapesten volt, de akárhol is játszódhatna. Akármikor is két kisfiúcsapat versenyezhetne egy játszótérért. A mese egyszerű és igénytelen de ha figyeljük, akkor összevethetjük, hogy Molnár Ferenc leírja egy gyermekcsapaton át az egész társadalmunkat: összeütközések, megegyezések, bajtársiasság, összetartás, árulás, minden van ebben a könyvben. Csak egy a különbség: a szereplők gyerekek és a gyermekkorban, varázslatos korszak, hadakozni nagyon szórakoztató."

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Tínhamos assistido ao filme Os meninos da Rua Paulo durante a aula e o "para casa" era escrever um pouquinho sobre a obra. Pois bem. Depois de horas escrevendo as linhas acima, mostrei-as ao Sr. János, que é a minha referencia húngara, meu professor mais severo e, ao mesmo tempo, mais carinhoso. Eu esperava muitas correcoes que nao aconteceram. Em vez delas, ele fez apenas um comentário que, se nao posso repetir por nao me lembrar das palavras exatas, posso perfeitamente substituir por aquela frase da Kriska a respeito do poema do José Costa: "é como se fosse escrito com acento estrangeiro".

Minha parede só continuou limpa porque nao havia prato de macarronada por perto.

hétfő, október 17, 2005

Telinhának


Semana passada, eu fui até a Vaci Utca, a rua dos turistas, tirar essa foto pra Telinha. Na minha cabeca, eu já imaginava até a fonte da letra com a qual eu escreveria em cor-de-rosa, tendo os ovinhos da vitrine como pano de fundo, "Boldog Születésnapot!" e todas as coisas amorosas que se deve escrever pra ela em seu aniversário. Mas o dia 12 chegou, o dia 12 passou, e eu ainda nao mandei o cartazinho imaginado por mim.

Mando agora, entao, ainda que com atraso, porque essa foto foi tirada pra ela - e ela sabe o porque! Essa foto é sua, Telinha, e é seu também esse carinho desajeitado mas enorme que me faz escrever essas linhas! :-)

kedd, október 11, 2005

Auto-retorto


Eu nao quero fazer esse espaco cheio de fotos minhas; por outro lado, a família me pede, tocantemente, o contrário.

In medio virtus.

vasárnap, október 09, 2005

A Vaquinha Faz...

Por falar em Guimaraes Rosa, hoje a Petra me ensinou que o cachorro húngaro nao faz au au, e sim vau-vau; passarinho também nao faz piu piu, e sim csipcsirip; o pato faz háp háp; o sapo brequequeia bre-ke-ke; a vaca nao muge em húngaro, ela "buge"- bú!! - e o galo canta com "u": kukurikú.

Mas o gato faz miau.

A Magyar Nyelv

"Disse já que o húngaro, por seu rico registro de vogais – que a caracterizam imediatamente – e da prevalência das claras sobre as surdas, dá-se como uma das línguas mais sonoras, musicais, em seu vozeio. Sonorosa, se bem que de ritmo fundamental muito enérgico, nela as seqüências de inflexões naturalmente modulam e fácil melodiam. De si concretizante, figurativa, imagista, encerra copiosa quantidade de onomatopéias. Sua gramática, parca, põe garra mais curta que a da emoção. Suas palavras nem sempre se fecham na racional fixidez conceitual explícita, na rigidez denotativa, antes guardam sob o significado uma ativa carga potencial, rudimentar, com o que, nos diversos momentos, inteiram-se mais variadamente de sentido, e, segundo as soluções rítmicas, se reembebem de um halo vivaz. Será, se dizer posso, uma língua menos ‘da lei’ que ‘da graça’; uma língua para homens muito objetivos, ou para poetas.

Nem não é tudo. Também, e o quanto ninguém imagina, é uma língua in opere, fabulosamente em movimento, fabril, incoagulável, velozmente evolutiva, toda possibilidades, como se estivesse sempre em estado nascente, apta avante, revoltosa. Sem desfigurar-se, como um prestante e moderno mecanismo, todo tratável, ela aceita quaisquer aperfeiçoamentos estruturais e instrumentais, que, nas exaltadas arremetidas criadoras de uma experimentação contínua, os escritores lhe infligem, segundo as mais sutis ou volumosas intenções. Suas partes obedecem à arte. Deste ponto-de-vista, nenhuma outra haverá tão plástica e colaborante, sem inércia. Por sua própria natureza original, permite todas as caprichosas e ousadas manipulações da gênese inventiva individual. Praticamente ilimitada é a criação de neologismos, o verbum confingere. O intercambiar dos sufixos e das partículas verbais é universal: os radicais aí estão, à espera de um qualquer afixo, como os forames de um painel de mesa-telefônica, para os engates ad libitum. Possível, mesmo, é a engendra de sufixos novos, partindo de terminações singulares ou peregrinas de vocábulos. Vale é o valível. Imissões adúlteras não são ilegítimas. A seiva arcaica se redestila. Absorvem-se os ruralismos. Recapturam-se as esquivas florações da gíria. Entre si, as palavras armam um fecundo comércio.

Molgável, moldável, digerente assim – e não me refiro em espécie só à língua literária – ,ela mesma se ultrapassa; como a arte deve ser, como é o espírito humano: faz e refaz suas formas. Sem cessar, dia a dia, cedendo à constante pressão da vida e da cultura, vai se desenrolando, se destorce, se enforja e forja, maleia-se, faz mó do monótono, vira dinâmica, vira agente, foge à esclerose torpe dos lugares comuns, escapa à viscosidade, à sonolência, à indigência; não se estatela. Seus escritores não deixam.

Os felizes escritores húngaros usam e mais usam da tratabilidade daquele esquematismo opulento, de um aparelho de tanta liberdade. E não o praticam apenas nos casos de necessidade elementar, conforme o ‘Sunt novis rebus nova ponenda nomina’ ciceroniano. Nesse contínuo operatório, querem não menos as operações estéticas fantasistas. O que eles buscam, às inspirações, toda-a-vida, é a máxima expressividade, a mais ponta para penetrar a matéria; o jogo eficaz. São todos individualistas. Desde que o entenda, cada um pode e deseja criar sua ‘língua’ própria, seu vocabulário e sintaxe, seu ser escrito. Mais do que isso: cada escritor húngaro, na prática, quase que não pode deixar de ter essa língua própria, pessoal. O alcance disso é mágico. Com isso, está o espírito geral da gente, que ele invoca. E essa é tendência que não arrefece. Cada jornal, em Budapeste, é escrito em seu dialeto ‘da casa’, às vezes fora da linguagem culta corrente – diz Laczkó Géza; e ajunta: ‘Na vida de sociedade húngara não basta ter-se espírito; mas a forma lingüística do dito espirituoso tem também de ser espirituosa’. Será que – como se fosse ainda o guerreiro em movimento ou solitário pastor, nas estepes antigas do Pamir ou, depois, onde volga o Volga e dona o Don – em o versar de seu idioma o magiar ficou sempre nômade."

Eis o motivo do meu sumico durante essa semana, nas palavras do Guimaraes Rosa em um trecho de seu prefácio para a Antologia do Conto Húngaro, do Paulo Rónai.

vasárnap, október 02, 2005

Beijo, beijo, beijo

Eu ensinei o cup e expliquei que se pronuncia tsup; depois o Raul mandou csók que, quando falado, vira tchôk; tchôk como Tchê e num minuto foi criado o csék e, como minha família é muito amorosa e criativa, agora o "livro de visitas" já está cheio de cups e czók e tchêck e cup-cup-csók-csók e, como uma coisa leva a outra, uaktis!

Estou até com medo de ensinar que tem puszi também...

szombat, október 01, 2005

Porco-espinho

Eu nunca na vida vi tanto porco-espinho como aqui em Budapeste!